quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

21 gramas

Alma. Entidade inefável inerente a todas as religiões, doutrinas ou sentimentos de "queremos ter um propósito" do mundo. Inefável, intangível, imponderável... Ou será que não? Eu nunca me propus a ver, quantificar ou mesmo acreditar nela, mas já houve quem o fizesse. E chegaram a uma conclusão. Independentemente de peso, altura, moral, dinheiro, ela é imutável. Sempre as mesmas 0,741 onças, 0,046 libras... 21 gramas.
Não faço julgamentos morais. Caráter, motivação, paixões... nada disso importa. Executo o serviço (magistralmente) e volto para o conforto do meu lar, onde não hesito em descansar meu corpo fatigado em meus límpidos lençóis. Faço o que faço a menos tempo do que muitos, e há mais tempo do que deveria. A equação é simples. Me dão o alvo, findo o filho da puta e desconto a grana.
Parece grotesco. E de fato o é. Poderia passar horas discutindo a beleza inerente do serviço bem feito, a estética irretocável de meus movimentos... ou negar-me a vaidade e assumir o ascético tom de apenas faço o que devo fazer, como o anjo negro que se esconde na noite. Não realizo o serviço de deus, ou do diabo (realizaria, se esses pagassem bem), é apenas um trabalho sem acepções quaisquer diferentes da financeira. Sim, fica mais fácil de fazê-lo quando simplesmente você está pouco se fudendo.
Poderia parar. Já tinha juntado um dinheiro suficiente para garantir uma vida moderada por muitos anos. Se arranjasse um emprego médio qualquer sustentaria facilmente uma família. Mas não podia parar. Eu era simplesmente bom demais no que fazia para isso,
Entro pela praia na casa. Ricaços e seus caprichos... vista para o mar, 10 câmeras de seguranças mal arrumadas e eles pensam que estão seguros. Vã ilusão. Um cachorro e eu teria ao menos dificuldade. Não há desafio em não ser visto pelo mundo. As pessoas simplesmente já nascem com a vocação.
Silenciosamente me esgueiro por uma janela do andar de cima. Furtivo, apenas observo. Aquela massa branca e sem pelos, totalmente despida sobre os caríssimos lençóis de seda rosa. Ao lado uma poça de vômito de vinho recém tragado, sobre o travesseiro de penas de ganso. Hilário. Uma mulher freneticamente vasculhava o quarto jogando em sua bolsa tudo que parecia ter valor. Puta feia... Senador da república, a mais de 30 anos engordando sua conta bancária a minhas custas, e só pode pagar por aquela puta feia? Revoltante. Espero até ela acabar, ouço seus passos na escada, o barulho da porta batendo. Entro no quarto e vejo aquela ruína humana que me garantiria dois meses de prestações do carro e alguns jantares chiques. Não gosto de me expor, mais esse serviço era até covardia.
Tento em vão acordá-lo. Coloco minha pistola na cama, fico encarando a faca improvisada de saca-rolhas. Mas não consigo matá-lo. Ele é simplesmente repugnante demais para meu senso estético ou meu ascetiscismo. Ele merece algo pior. Aquela gordura encharcada de álcool e outras drogas menos lícitas clamava por dor, sofrimento e humilhação. Não tive escolha. Tento novamente acordá-lo, talvez a última réstia de misericórdia no meu corpo. Mas ele realmente queria... Não tive escolha. Cuidadosamente tiro minha calça e coloco meu pênis para fora. Entumescido de asco. Realizo o serviço sem gemidos ou prazer. Apenas faço o que deve ser feito (o serviço de deus ou do diabo).
A profusão de cores sobre o lençol de seda me fascina... junto o vermelho e o branco ao rosa e roxo... aquela coisa semi-humana me irritou profundamente. Como não estar acordado para apreciar aquela aquarela? Era como passar o Reveillon dormindo e perder os fogos. Em um só movimento castrei-o, enfiando aquela amálgama macabra por sua garganta. Então ele acordou! Depois de todo o show, ele se atreve a acordar... Segurei-o firmemente até asfixiar. Ai sim houve os gemidos e o prazer.
Não me dou ao luxo de apagar meus vestígios. Todos sabem que apenas fiz o que devia fazer. Sem riscos. Não apenas mais um cheque descontado. Um serviço, cumprido pelo meu senso de dever. Inflo o peito orgulhoso de minha própria obra e deixo o quarto, 21 gramas mais pesado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Botafoguense por um dia...

E eis que na era dos pontos corridos, inusitadas cenas tornam-se freqüentes... Hoje/ontem, dediquei uma hora e meia do meu corrido tempo de universitário em fim de semestre (noooooot!) a torcer pelo Glorioso. Esbravejei com cada contra-ataque desperdiçado, sofri com cada investida tricolor, descabelei-me com os gols perdidos, sofri com os sofridos, e enfim pude soltar aquele entalado grito na garganta. Assim, antes de tudo, a era dos pontos corrido me deu a oportunidade única de experimentar o que é ser botafoguense por um dia.
Ser botafoguense é ter que vencer a 3 rodadas do fim do campeonato, não por um título, uma vaga em um campeonato continental ou mesmo em honra própria... é ter que vencer simplesmente para se manter um time. É ter que depender de um artilheiro que fez tantos gols quanto o Muriqui, em que o jogador diferenciado faz dois golaços, mas é incapaz de empurrar para as redes debaixo da trave, é ver a estrela do time em campo tão solitária como a do escudo...
É ver um jogo em casa que começou fácil se transformar no inferno, é fazer um gol para levar o empate e a virada. É expulsar um do adversário só para ter três dos seus no chuveiro. É ver o empate se transformar em pressão. É ver o gol redentor se transformar em expulsão infantil... E quando escutar o apito final consagrando a vitória sobre o líder do campeonato, saber que ajudou seu maior rival.
Enfim isso é ser botafoguense. Sofrer, tremer, e (quase) chorar a cada 90 minutos em campo. Hoje a nação botafoguense teve milhares de ilustres torcedores, mesmo que apenas por 90 minutos. Hoje vibrei, gritei e sofri com vocês. Só posso desejar-lhes a mesma sorte desse embate contra seus próximos adversários para, quem sabe, ano que vem os pontos corridos me permitam de novo o (des)prazer de ser botafoguense.

Obs.: Como o Mengão não cumpriu seu dever de casa cabe a mim semana que vem torcer fervorosamente pelo goiás, meu algoz desse fim-de-semana... Ah, pontos corridos!

sábado, 21 de novembro de 2009

A passagem (By Vitor Domício)

Como nem sempre as musa me sorriem, mas frequentemente sorriem ao meu brother Domício, apreciem essa obra:

A passagem

O esgoto entupido da área de serviço perturbava seus sonhos. Os besouros subiam na sua cabeça. Toda aquela sujeira se mostrava presente mais do que nunca em sua vida. Manchava a sua existência com o sangue dos desejos suicidas, e com o suor dos trabalhos inúteis.

As contas do fim do mês pareciam engolir a minúscula quase-renda conseguida a custa de lágrimas contidas, gritos engolidos e mortes mal vividas. As contas do fim do mês pareciam...O fim do mês sempre parecia tão longe. Ele parecia tão perto. Ele não parecia. Não parecia porque o fim do mês era a passagem, a obscena passagem de um dia extremamente comum e ante-normal para outro inútil e maldito dia; porque o fim do mês era igual ao começo e ao meio, e era como tudo nessa vidinha de catacreses. Era como tudo e como todos. Não era.

E por isso não se tinha nenhuma empolgação com o fim do mês, com o começo, ou com o meio. Seu mal-cheiroso meio, meio do caminho, meio da vida. Nem nada nem tudo, apenas metade. Viver metade; sentir metade; fazer metade; existir só metade.

Fazia a passagem daquele dia para aquele outro dia como todos os outros dias: dormindo. Dormia, quando era preciso acordar. Dormia, quando era preciso viver, acordar para as mortes que existiam em suas breves mastigadas naquele pão endurecido comprado no dia anterior, que ela comia no café amargo da sua manhã.

A passagem de todos os dias para todos os outros dias era igual a passagem de todos os dias para todos os outros dias.Nada de enriquecedor no lençol sujo que a abraçava no frio sentido pelo coração fútil. Nada de estimulante na dor que o pé podia contemplar em todos os inesgotáveis instantes que pisava, que andava, dando os passos medíocres em direção ao espelho... até parar. Mas nesse caso parar era uma saída. Já que ela não parava nunca com as pré-emoções afastadas dos olhos e contidas na lágrima incapaz de engrandecer o oceano. Mas era necessário parar?

A ignorância de seus falsos sentidos era cômica. Fazia-se rir da maravilhosa desgraça de todo dia sobre o sangue escorrido no túmulo de sua mente.

Agora, preparava-se para outra passagem. Fazia. Realizava. Vivia com a certeza de que tudo seria comportadamente igual ao que sempre foi, chegando a rir do criado mudo, por ter a certeza de que ele nunca deixaria de ser criado mudo, ela sabia. Sabia que tudo, todas aquelas imundas coisas que contribuíam para seu mundo ser daquele jeito, tinha certeza de que tudo nunca ia mudar, e de que nada seria diferente, tendo uma falsa impressão de controle e supremacia sobre as coisas. Mas as coisas é que a controlavam.

Ela realizava aquele ritual antes da passagem, repetia roboticamente aquelas mesmas e velhas ações do pavoroso sempre. Ela sabia exatamente como ia ser depois da passagem. Ela sabia. Depois da passagem ia ser igual a antes. E o amanhã se confundia com o hoje, que se confundia com o ontem.Ela sabia. Isso a assassinava. Isso a acabava sem a piedade sentida ao matar sem querer a formiga na mesa com o copo de saúde do almoço.

Ela continuava... Continuava... Seguindo algo que parecia fazê-la voltar sempre ao começo. Indo a algum lugar ou a lugar algum, de modo a dar dois mentirosos passos para frente, e dois verdadeiros para trás.


Vitor Domício

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Chove

Chove. Deixemos nossos palácios ou mansões, casebres ou barracos, e corramos a desfrutá-la! Desfrutá-la! Sorvê-lhe cada gota de expiação, encharcar nossas roupas manchadas de tantas vis paixões em sua pureza, depurar-nos em sua limpidez!
Não. Não é a redentora chuva que ansiávamos. Não está a escorrer vigorosa, fina e gelada, percorrendo cada milímetro de nossos conspurcados corpos. Esta é a chuva dos velhos pecados, viscosa e lenta. Realçando cada mancha de nossos mortais trajes. Corroendo todas as nossas proteções e abrigos; casebres e mansões, palácios e barracos; máscaras e gibões.
Contínua e sarcástica, traz à terra tudo o que os céus nos reservam. Corramos, pois esta é a chuva dos velhos pecados, sempre disposta a nos negar o perdão. Arrastando novas máculas, empoçando aos nossos pés. Desfrutem-na! Deleitem-se! Pois esta é a chuva das Mágoas Perenes. A chuva dos Erros Mortais . A chuva da Dor Infligida. A sua Chuva!
Chove. Sorvamos cada gota de agonia e desespero! Afoguemo-nos em auto-comiseração! Só nos resta a lama primordial, de onde viemos e de onde nunca conseguimos sair. Façamos dela nossa morada, criemos nossa própria chuva de velhos pecados! Assim haverá a certeza de que quando o sol ressecar as nódoas em nossas roupas e fustigar nossas frontes pesarosas, ainda estaremos encharcados por dentro. Se o sol nos agraciar. Pois agora chove.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Soneto do fim de semana

O mundo gira, translada eternamente
incomodando, agitando a toda hora
quero esquecer que existe um "lá fora"
cair em solidão completamente

Crianças, campainha, celular
Tudo o que eu quero é sumir
Corro, corro pra fugir
Mas tudo parece ir me buscar

O mundo gira, translada e se move
E eu fico aqui fincado feito estaca
Que eu de todo isolamento prove!

Pois se vejo alguem corto com uma faca
a menos que traga um copo d'água e um engov
Que não suporto mais essa ressaca!

domingo, 18 de outubro de 2009

7 lições sobre morar sozinho...

1ª: Se suas roupas e louça estão se lavando só, ou você se casou, ou está morando com a mãe, ou está na hora de parar com os alucinógenos;
2ª: Estender roupa é a dança da chuva mais efetiva que existe;
3ª: Carne descongelada na geladeira ESTRAGA, pelo menos se deixada por 10 dias;
4ª: Ficar pelado em casa é legal, cozinhar assim não;
Obs.: Cozinhar de toalha é um ótimo método para inutilizar a mesma;
5ª: Fazer rodízio de camas é só uma forma de ter duas para arrumar;
6ª: Roupas passadas são coisas extremamente dispensáveis;
7ª: Despertadores sabem ser malignos.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Cafajeste (por Chico Sá)

Enquanto as musas não me volta seu terno olhar, brindo-lhes com essa pérola do meu conterrâneo (apesar dele ser do Cariri e eu ser praciano) Xico Sá.



O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.

Ou é um dublê do Peréio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que, no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.

O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de bonitonas e gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E, de repente, descobre que se trata de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.

O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de um personal stylist: falsa malandragem, cafuçu de araque. E sempre com um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, a ciência da pegada está no olho e no drinque caubói, por supuesto.

O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato desfalca o colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga a caminho da roça.


Falso e romântico

O falso cafa é só garganta. Transando ou não, diz que transou, fez e aconteceu, e ainda espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom, necas.

O cafajeste romântico é discreto. Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma bonequinha de luxo. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo... apenas sexo.

O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo - mas que seja, pelo menos, de uma bela cria da nossa costela, claro, no bafo.

No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições - ele se sujava todo chupando manga na infância e hoje sabe, por causa dessa pedagogia, como o sexo oral é uma arte.

O amador é asséptico e limpinho, corre sempre para o chuveiro depois da transa.

O cafa amoroso, amigo, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Bukowsky.

O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores... Ele ainda não sabe que para curar um amor platônico é preciso uma trepada homérica, como diria o poeta Eduardo Kac, gênio de Copacabana, da bioarte e seus arredores.


Modinhas de fêmea

Conselho do P.J.O'Rourke, no livro Etiqueta Moderna - Finas Maneiras para Gente Grossa, tradução do Aran, ed. Conrad:

"Quando você vai ao encontro de um homem, é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele. Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas."


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Cidade sem Nome

Ninguém sabe ao certo quem fundou a Cidade sem Nome, muito menos quando. Quantos eram, o que tinham em mente, do que fugiam, o que queriam se muito... Mas isso é irrelevante. O que ninguem duvida mesmo é que ela durará para sempre.
Todos os dias novos habitantes chegam, alguns partem... Mas todos permanecem. Reza a lenda que aqui ninguem nasce mas há dúvidas... porém todos estão envolvidos demais em sombras ou caçando estrelas para se preocuparem com isso. Aqui não existem bairros, regiões ou mesmo guetos e favelas. É uma massa só uniforme em seu isolamento, sozinho em cada cubículo mal iluminado. Só.
A geografia é condizente com esse panorama. A cada beco e ruela se repete o mesmo cenário anterior. Não digo triste ou desolado, apenas árido e impassível. Até para a felicidade, o gozo e análogos. A Cidade sem Nome é cercada por grandes rochedos escarpados, quase intransponíveis de dentro para fora. Não, não é para impedir a emigração dos pobres habitantes dessas paragens, é apenas um lembrete do que os espera lá fora.
O tempo aqui é constante. Chuva sempre, alternado por raros repentes de céu nublado. As únicas cores apreciáveis são o verde escuro e o cinza. O sol a esqueceu e a lua a abandonou. Não há estações do ano. O tempo aqui não é senhor, nem por isso escravo. Ele passa, nós passamos. Ninguém reclama.
Não há governo. Não há auto-gestão. Não há democracia ou ditadura. É simples: ninguém se importa. Economia, política... isso ficou para trás, do lado de fora. Aqui existe apenas o eu.
Não são todos que são agraciados com o direito de se mudar para cá. Tem que merecer. Muitos que chegam, se negam a aceitar a nova morada. Aos poucos vão armando sua mudança e quando mal se percebe já estão instalados; esses são os que não costumam ir embora nunca. Há os que se alojam logo, tomam o seu espaço e em poucos dias já estão escalando os íngremes penhascos em rumo ao que já tinham. Há os que chegam alardeando sandices e bobagens, só para terminarem seus dias em amargurado e constrito silêncio como auto-penitência.
E há os que como eu, apenas acordaram aqui. Não há o que se fazer, quem sabe até caçar um propósito se tal coisa existe. Na dúvida, persisto minha jornada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

E o Tevez ainda disse que "a argentina ia comer o Brasil em campo"...



P.S.: Richarlyson lamentou muito a não-convocação depois da declaração do argentino.

Crise dos 5 posts

Criei isso aqui com a idéia: "olha eu sempre tou com pensamentos bacaninhas que não tenho com quem falar ou onde escrever", quando na verdade deveria ser: "quantos posts eu aguento?". Eu ainda não consegui nem passar de cinco deles e as musas já viraram suas costas pra mim (musa tem costas?)... eu sempre fui afeito a cinema de arte, musicas lepréuticas e outras coisas de pseudo-intelectuais metidos a bestas, e eu pensava que isso tinha me dado bagagem para simplesmente sustentar esse blog com novas safras de bobagens aleatórias.
Porém subestimava o poder dos sais de Ruthenio e dos projetos de Cálculo 2... e agora fico aqui rezando à Nossa Senhora dos Blogueiros sem Criatividade qualquer coisa interessante (ou sendo menos exigente, qualquer coisa!). Isso me levou a questões mais metafísicas como aquelas Para que escrever? Para quem eu escrevo? Para que fazer a mulher engolir nos filmes pornôs? (opa, essa pergunta é de outro cunho). Voltando, ao me perguntar isso concluí que eu escrevo pelo dever cívico de dar o meu quinhão de besteiras para a net... aproveitar para alguma coisa útil a minha banda (quase) larga e até quem sabe me expressar mesmo.
Refleti um pouco mais e conclui: já tem besteira demais na internet, baixar Arquivo X é mais útil, então o negocio é me expressar mesmo. O que me bloqueia as letras é a preguiça e a concorrencia com as bobagens supracitadas da net...
Enfim, quando eu entrar na crise dos dez posts eu volto ao assunto (ou não).



P.S.:Bobagens supracitadas da net = Porntub

domingo, 23 de agosto de 2009

"A louça de hoje é o pesadelo de amanhã"

Pessoas, atualmente eu vivo o desafio de me manter vivo by myself... E como não só de miojo (ou de bandeco) vive um homem estou executando vários experimentos culinários, alguns bem-sucedidos outros não, mas isso é o de menos porque independente do resultado eu como mesmo!
E nesse percurso trilhado me deparei com um problema insolucionável (não, não é a lavagem da minha calça Jeans): a louça. Dia após dia lá está ela, como a memória do dia anterior, a lembrança de seus atos a rir desdesonhamente das suas tentativas de ignorá-la. Porra, ela é pior que minha consciência! Estou desenvolvendo algumas táticas: não importa o que eu esteja cozinhando sempre limito o que eu posso sujar a uma panela, uma frigideira, um prato, um garfo, uma colher e aquela faca cega de cortar carne que eu uso de teimoso. Para fazer coisas de forno planejo abrir exceção para usar assadeira, pirex ou análogo, mas sempre limitado a uma unidade. Copos, dispenso-os. Só compro coisas que possam ser tomadas na própria embalagem (na verdade tudo pode ser tomado na própria embalagem, acredite em mim).
A descoberta mais aterradora que tive foi que a louça, assim como as roupas, não se lava só e não importa o quão fundo você deseje, ela continua lá. Já experimentei inclusive lavá-la toda antes de começar a cozinhar, mas ao fim do dia ela continua na pia, incólume. Com isso só existem duas soluções no horizonte: usar tudo descartável (idéia em estudo) ou então começar a ganhar dinheiro logo e contratar uma empregada.

http://www.youtube.com/watch?v=5hISNd9m_As&feature=related (larica total ensinando a se livrar da louça)

obs: chamei a artilharia pesada e agora o mofo está cercado em sua última fortaleza. É questão de tempo para a sua rendição. Essa guerra eu já venci!

domingo, 16 de agosto de 2009

tudo em seu lugar, até coisa demais

Enfim minhas regalias suinas chegam ao fim... Volto pra "casa". Fico extremamente feliz em saber que meus delírios psicótico-paranóicos não se concretizaram e ninguém tentou invadir minha kit, tudo em seu lugar... Mas eis que um cheiro velho conhecido paira no ar: MOFO! Meu inimigo de longa data deflagrador das mais torturantes amigdalites, rinites, faringites e outras ites que meu corpo consegue inventar! Estou em uma casa dálmata: o que era preto tem pontos brancos, o que era branco tem pontos pretos!
Safado! Foi só eu virar as costas e sorrateiramente se infiltrou nos meus domínios. Roupas, umas 2 semanas de sol quem sabe salvem algumas (como se fizesse muito sol por aqui); crise alergica, espero que os 261535187 celestamines que eu tomei sirvam pra alguma coisa; a coitada da tv, resistiu como pode e após 6 semanas de ataques ininterruptos dos indesejados inquilinos ainda funciona. Mas isso é o de menos... o mofo conseguiu me roubar o prazer inefável de simplesmente chegar depois de umas bem aproveitadas férias e se jogar na cama, na SUA cama e falar: enfim, fudeu! Vai começar tudo de novo!

Obs: escrevo do chão da sala numa réstia de piso que consegui conquistar entre o território do meu antagonista, a custo de uma garrafa de ajax sabor floral e um litro de álcool gel. Entrincheirado entre os lençóis que consegui salvar dele (os que tavam na cama são candidatos ao lixo...) construo meu plano de ataque para amanhã. Prepare yourself! Minha vingança será maligna!!!!!
obs2: o fdp certeza que está rindo de mim pela casa, um frio da porra e eu com tudo que é janela e porta aberta, de samba canção (meus pijamas de frio também estão impraticáveis) entre lençóis finos (edredons idem!)!!!!!!!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Rhinotillexomania (primeiro conto, uhuuu!)

Rhinotillexomania. Achei o nome em um dicionário qualquer... Não me dei ao trabalho de descobrir se vem do latim, grego arcaico ou sânscrito. Mas dá pra ter uma pequena noção sobre o que se trata. Tirar meleca do nariz. Compulsivamente.
Compulsivamente. Compulsão. Com o pulso. Se pudesse enfiava a merda da minha mão até o pulso no meu nariz para me libertar desses objetos infames que habitam minha narina. Não eram poucos. Não eram pequenos. E tinham um propósito.
Começou cedo. Todas minhas lembranças de infância passavam por isso. Vejo duas vantagens claras da infância pura, aquela dos 5, 6 anos: a completa falta de qualquer interesse pelo o que pensam as pessoas ao seu redor e a total complacência recebida em troca. Com o tempo, só consegui conservar a primeira...
Mas voltemos ao meu problema. Desde criança cometia a rhinotollexomania, mesmo não tendo noção desse nome. Primeiro, tirava descaradamente. Com os anos, aprendi a ser discreto: um vacilo de qualquer interlocutor meu e lá ia o meu dedo ágil, estrategicamente posicionado em forma de garra, e me livrava daquele ser indesejado. Funcionou, por um tempo.
Isso era em público. Na paz de minha privacidade extraía-as sem nenhum pudor. Da mesma forma, não me negava exasperações de prazer a cada inimigo vencido.
E continuou, piorou. Na adolescência incontáveis vezes era obrigado a “desaparecer” para poder me entregar as minhas batalhas, mudava meus hábitos. Nada que realmente me atrapalhasse, porém não me parecia correto. Entretanto, sabia que estava fazendo o certo. E me sentia recompensado sempre. Estava empreendendo minha própria cruzada, o trabalho de deus. Mas na verdade, era só masturbação.
E aquilo seguiu prazeroso por mais alguns anos, apesar de já requerer maior atenção. Uma conversa de dez minutos, cara a cara, era um suplício. Encurtava como podia e já nem me dava o trabalho de me esconder para executar o serviço. Apenas virava o rosto e tirava a maldita de mim. Inocente, porém muitas vezes desagradável. E piorou, e piorou.
Dedicava horas aos meus embates. Deixava de sair de casa. Mas no fundo, era prazeroso. Alívio, a forma mais simples e nobre de recompensa. Socialmente era tenebroso. Parei de pensar nas implicações sociais daquilo. Pouco me importava o que as pessoas pensavam. Era a minha cruzada.
E aos poucos, foi me dominando. Levou cerca de 30 anos, mas transformei um habito detestável em um estilo de vida. Escondia-me oito horas por dia em algum serviço que me permitisse continuar meu vício. Passei incólume por todos os outros, aliás. Álcool, tabaco, sexo... Recompensas boas, mas momentâneas. Nada que se comparasse ao puro e simples ato de retirar meleca do nariz.
O que sempre me intrigou era a rapidez com a qual aquilo se reproduzia em minhas duas narinas. Limpava tudo e em questão de minutos, já havia mais. Mexia até meu nariz sangrar. Assim que o sangramento estancava lá estavam novamente.
E enfim me consumiu. Desisti dos relacionamentos. Seguia com o emprego só por questão de sobrevivência, mas abandonei qualquer outra atividade. Ignorava a degradação física por qual passava. Ignorava em que estava me tornando.
Cheguei ao ponto de quase vencê-las, ao notar que elas não apareciam rápido o suficiente para re-satisfazer minha compulsão. Alegrava-me com minhas pequenas hemorragias nasais auto-infligidas, era um convite para que viessem em abundância. E novamente meu nariz sangrava.
Foi então que elas vieram. Ou eu as descobri, nem sei ao certo. Seres abissais. Senti formações no fundo da minha narina, onde o dedo não deveria alcançar. Aquilo não me abateu. Assoar o nariz era efetivo, mas pouco recompensador. Era quase como levar uma mulher ao orgasmo com um vibrador. Para ela você pode até ter cumprido seu papel, mas a porra continua lá dentro.
Gradativamente venci a morfologia nasal e consegui ter acesso a elas. Pinças, palitos, cotonetes, grampos... Depois avancei até conseguir colocar meu dedo. Concomitantemente, sentia-as cada vez mais internas e zombeteiras. E mais inalcançáveis.
Por volta dos 50 começou a doer. Não a ardência e incômodo gerado pelas constantes lacerações que eu causava a mucosa nasal ou mesmo aquela sensação ruim de ir fundo demais com o dedo no nariz. A dor me lancinava. Porém não bastava mais retirá-las. Esperava segundo a segundo o momento em que se tornariam acessíveis aos meu dedos finos... Mas não bastava. Aquilo continuava. Logo em seguida outras tomavam o lugar das caídas. Isso me confortava, pois cada pequeno lampejo de alívio aplacava um pouco aquela dor maior. Já demoravam demais e a espera se tornava cada vez mais insuportável.
Em menos de um ano já estava incapacitado. Minhas lacerações nasais necessitaram de cuidado médico. Tratei-as, mas rejeitei um suposto tratamento que diminuiria minhas “secreções nasais”. Nunca se deve confiar em médicos. A dor atingiu o estagio do ingerenciável, e se tornou sofrimento. Não é possível se retirar melecas da alma.
Sofrimento. Não há como vencê-lo. Você pode até se acostumar a ele, mas isso significa rendição. Não me renderia, aquilo era a minha cruzada. E assim segui. Sofrimento: a cada meleca retirada, a cada meleca renascida, a cada dose, a cada tragada, a cada gozada, a cada passo, a cada dia. Um dia arranjei uma briga que me valeu um cruzado de direita em cheio no nariz. Sofri uma espécie de ejaculação nasal. Valeu-me um segundo de distração, mas só um segundo. Não me renderia ao masoquismo.
E enfim aqui cheguei. Não me importam quantos anos de vida me restam. Não me importa a vida medíocre a que me entreguei. Família, sucesso, dinheiro, nunca me tentaram. Sei de pessoas que tiveram tudo e perderam, sei de pessoas que transformaram centenas em bilhões, sei de pessoas que clamam ter achado o sentido da vida, o amor e outras baboseiras equivalentes. Nunca precisei disso. Nunca procurei isso. Porque, intimamente, no recôndito do meu ser eu sempre soube. Melecas: grandes ou pequenas, compridas ou esféricas, secas ou úmidas, sempre estiveram onde eram para estar. E a cada instante eram repostas independente do meu esforço homérico em retirá-las. Esse é o propósito delas... serem a minha cruzada. Quanto ao sofrimento, que fique onde está: não é possível se retirar melecas da alma.

Inauguração

É... Enfim, me rendi ao blog. Atrasado por que sei que já tão na era do microblog... mas é isso ai (dane-se). Isso aqui é minha humilde tentativa de expor o que de vez em quando sai da minha mente distorcida... Se as musas me sorrirem tento escrever alguma coisa aqui, senão vou tentar me ater a falar de música, literatura e principalmente: nada.


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