quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Cidade sem Nome

Ninguém sabe ao certo quem fundou a Cidade sem Nome, muito menos quando. Quantos eram, o que tinham em mente, do que fugiam, o que queriam se muito... Mas isso é irrelevante. O que ninguem duvida mesmo é que ela durará para sempre.
Todos os dias novos habitantes chegam, alguns partem... Mas todos permanecem. Reza a lenda que aqui ninguem nasce mas há dúvidas... porém todos estão envolvidos demais em sombras ou caçando estrelas para se preocuparem com isso. Aqui não existem bairros, regiões ou mesmo guetos e favelas. É uma massa só uniforme em seu isolamento, sozinho em cada cubículo mal iluminado. Só.
A geografia é condizente com esse panorama. A cada beco e ruela se repete o mesmo cenário anterior. Não digo triste ou desolado, apenas árido e impassível. Até para a felicidade, o gozo e análogos. A Cidade sem Nome é cercada por grandes rochedos escarpados, quase intransponíveis de dentro para fora. Não, não é para impedir a emigração dos pobres habitantes dessas paragens, é apenas um lembrete do que os espera lá fora.
O tempo aqui é constante. Chuva sempre, alternado por raros repentes de céu nublado. As únicas cores apreciáveis são o verde escuro e o cinza. O sol a esqueceu e a lua a abandonou. Não há estações do ano. O tempo aqui não é senhor, nem por isso escravo. Ele passa, nós passamos. Ninguém reclama.
Não há governo. Não há auto-gestão. Não há democracia ou ditadura. É simples: ninguém se importa. Economia, política... isso ficou para trás, do lado de fora. Aqui existe apenas o eu.
Não são todos que são agraciados com o direito de se mudar para cá. Tem que merecer. Muitos que chegam, se negam a aceitar a nova morada. Aos poucos vão armando sua mudança e quando mal se percebe já estão instalados; esses são os que não costumam ir embora nunca. Há os que se alojam logo, tomam o seu espaço e em poucos dias já estão escalando os íngremes penhascos em rumo ao que já tinham. Há os que chegam alardeando sandices e bobagens, só para terminarem seus dias em amargurado e constrito silêncio como auto-penitência.
E há os que como eu, apenas acordaram aqui. Não há o que se fazer, quem sabe até caçar um propósito se tal coisa existe. Na dúvida, persisto minha jornada.

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