sábado, 3 de outubro de 2009

O Cafajeste (por Chico Sá)

Enquanto as musas não me volta seu terno olhar, brindo-lhes com essa pérola do meu conterrâneo (apesar dele ser do Cariri e eu ser praciano) Xico Sá.



O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.

Ou é um dublê do Peréio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que, no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.

O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de bonitonas e gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E, de repente, descobre que se trata de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.

O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de um personal stylist: falsa malandragem, cafuçu de araque. E sempre com um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, a ciência da pegada está no olho e no drinque caubói, por supuesto.

O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato desfalca o colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga a caminho da roça.


Falso e romântico

O falso cafa é só garganta. Transando ou não, diz que transou, fez e aconteceu, e ainda espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom, necas.

O cafajeste romântico é discreto. Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma bonequinha de luxo. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo... apenas sexo.

O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo - mas que seja, pelo menos, de uma bela cria da nossa costela, claro, no bafo.

No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições - ele se sujava todo chupando manga na infância e hoje sabe, por causa dessa pedagogia, como o sexo oral é uma arte.

O amador é asséptico e limpinho, corre sempre para o chuveiro depois da transa.

O cafa amoroso, amigo, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Bukowsky.

O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores... Ele ainda não sabe que para curar um amor platônico é preciso uma trepada homérica, como diria o poeta Eduardo Kac, gênio de Copacabana, da bioarte e seus arredores.


Modinhas de fêmea

Conselho do P.J.O'Rourke, no livro Etiqueta Moderna - Finas Maneiras para Gente Grossa, tradução do Aran, ed. Conrad:

"Quando você vai ao encontro de um homem, é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele. Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas."


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