quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
21 gramas
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Botafoguense por um dia...
sábado, 21 de novembro de 2009
A passagem (By Vitor Domício)
Como nem sempre as musa me sorriem, mas frequentemente sorriem ao meu brother Domício, apreciem essa obra:
A passagem
O esgoto entupido da área de serviço perturbava seus sonhos. Os besouros subiam na sua cabeça. Toda aquela sujeira se mostrava presente mais do que nunca em sua vida. Manchava a sua existência com o sangue dos desejos suicidas, e com o suor dos trabalhos inúteis.
As contas do fim do mês pareciam engolir a minúscula quase-renda conseguida a custa de lágrimas contidas, gritos engolidos e mortes mal vividas. As contas do fim do mês pareciam...O fim do mês sempre parecia tão longe. Ele parecia tão perto. Ele não parecia. Não parecia porque o fim do mês era a passagem, a obscena passagem de um dia extremamente comum e ante-normal para outro inútil e maldito dia; porque o fim do mês era igual ao começo e ao meio, e era como tudo nessa vidinha de catacreses. Era como tudo e como todos. Não era.
E por isso não se tinha nenhuma empolgação com o fim do mês, com o começo, ou com o meio. Seu mal-cheiroso meio, meio do caminho, meio da vida. Nem nada nem tudo, apenas metade. Viver metade; sentir metade; fazer metade; existir só metade.
Fazia a passagem daquele dia para aquele outro dia como todos os outros dias: dormindo. Dormia, quando era preciso acordar. Dormia, quando era preciso viver, acordar para as mortes que existiam em suas breves mastigadas naquele pão endurecido comprado no dia anterior, que ela comia no café amargo da sua manhã.
A passagem de todos os dias para todos os outros dias era igual a passagem de todos os dias para todos os outros dias.Nada de enriquecedor no lençol sujo que a abraçava no frio sentido pelo coração fútil. Nada de estimulante na dor que o pé podia contemplar em todos os inesgotáveis instantes que pisava, que andava, dando os passos medíocres em direção ao espelho... até parar. Mas nesse caso parar era uma saída. Já que ela não parava nunca com as pré-emoções afastadas dos olhos e contidas na lágrima incapaz de engrandecer o oceano. Mas era necessário parar?
A ignorância de seus falsos sentidos era cômica. Fazia-se rir da maravilhosa desgraça de todo dia sobre o sangue escorrido no túmulo de sua mente.
Agora, preparava-se para outra passagem. Fazia. Realizava. Vivia com a certeza de que tudo seria comportadamente igual ao que sempre foi, chegando a rir do criado mudo, por ter a certeza de que ele nunca deixaria de ser criado mudo, ela sabia. Sabia que tudo, todas aquelas imundas coisas que contribuíam para seu mundo ser daquele jeito, tinha certeza de que tudo nunca ia mudar, e de que nada seria diferente, tendo uma falsa impressão de controle e supremacia sobre as coisas. Mas as coisas é que a controlavam.
Ela realizava aquele ritual antes da passagem, repetia roboticamente aquelas mesmas e velhas ações do pavoroso sempre. Ela sabia exatamente como ia ser depois da passagem. Ela sabia. Depois da passagem ia ser igual a antes. E o amanhã se confundia com o hoje, que se confundia com o ontem.Ela sabia. Isso a assassinava. Isso a acabava sem a piedade sentida ao matar sem querer a formiga na mesa com o copo de saúde do almoço.
Ela continuava... Continuava... Seguindo algo que parecia fazê-la voltar sempre ao começo. Indo a algum lugar ou a lugar algum, de modo a dar dois mentirosos passos para frente, e dois verdadeiros para trás.
Vitor Domício
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Chove
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Soneto do fim de semana
domingo, 18 de outubro de 2009
7 lições sobre morar sozinho...
sábado, 3 de outubro de 2009
O Cafajeste (por Chico Sá)
Enquanto as musas não me volta seu terno olhar, brindo-lhes com essa pérola do meu conterrâneo (apesar dele ser do Cariri e eu ser praciano) Xico Sá.
O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.
Ou é um dublê do Peréio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que, no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.
O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de bonitonas e gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E, de repente, descobre que se trata de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.
O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de um personal stylist: falsa malandragem, cafuçu de araque. E sempre com um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, a ciência da pegada está no olho e no drinque caubói, por supuesto.
O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato desfalca o colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga a caminho da roça.
O falso cafa é só garganta. Transando ou não, diz que transou, fez e aconteceu, e ainda espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom, necas.
O cafajeste romântico é discreto. Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma bonequinha de luxo. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo... apenas sexo.
O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo - mas que seja, pelo menos, de uma bela cria da nossa costela, claro, no bafo.
No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições - ele se sujava todo chupando manga na infância e hoje sabe, por causa dessa pedagogia, como o sexo oral é uma arte.
O amador é asséptico e limpinho, corre sempre para o chuveiro depois da transa.
O cafa amoroso, amigo, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Bukowsky.
O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores... Ele ainda não sabe que para curar um amor platônico é preciso uma trepada homérica, como diria o poeta Eduardo Kac, gênio de Copacabana, da bioarte e seus arredores.
Conselho do P.J.O'Rourke, no livro Etiqueta Moderna - Finas Maneiras para Gente Grossa, tradução do Aran, ed. Conrad:
"Quando você vai ao encontro de um homem, é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele. Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas."