segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Chove

Chove. Deixemos nossos palácios ou mansões, casebres ou barracos, e corramos a desfrutá-la! Desfrutá-la! Sorvê-lhe cada gota de expiação, encharcar nossas roupas manchadas de tantas vis paixões em sua pureza, depurar-nos em sua limpidez!
Não. Não é a redentora chuva que ansiávamos. Não está a escorrer vigorosa, fina e gelada, percorrendo cada milímetro de nossos conspurcados corpos. Esta é a chuva dos velhos pecados, viscosa e lenta. Realçando cada mancha de nossos mortais trajes. Corroendo todas as nossas proteções e abrigos; casebres e mansões, palácios e barracos; máscaras e gibões.
Contínua e sarcástica, traz à terra tudo o que os céus nos reservam. Corramos, pois esta é a chuva dos velhos pecados, sempre disposta a nos negar o perdão. Arrastando novas máculas, empoçando aos nossos pés. Desfrutem-na! Deleitem-se! Pois esta é a chuva das Mágoas Perenes. A chuva dos Erros Mortais . A chuva da Dor Infligida. A sua Chuva!
Chove. Sorvamos cada gota de agonia e desespero! Afoguemo-nos em auto-comiseração! Só nos resta a lama primordial, de onde viemos e de onde nunca conseguimos sair. Façamos dela nossa morada, criemos nossa própria chuva de velhos pecados! Assim haverá a certeza de que quando o sol ressecar as nódoas em nossas roupas e fustigar nossas frontes pesarosas, ainda estaremos encharcados por dentro. Se o sol nos agraciar. Pois agora chove.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Soneto do fim de semana

O mundo gira, translada eternamente
incomodando, agitando a toda hora
quero esquecer que existe um "lá fora"
cair em solidão completamente

Crianças, campainha, celular
Tudo o que eu quero é sumir
Corro, corro pra fugir
Mas tudo parece ir me buscar

O mundo gira, translada e se move
E eu fico aqui fincado feito estaca
Que eu de todo isolamento prove!

Pois se vejo alguem corto com uma faca
a menos que traga um copo d'água e um engov
Que não suporto mais essa ressaca!

domingo, 18 de outubro de 2009

7 lições sobre morar sozinho...

1ª: Se suas roupas e louça estão se lavando só, ou você se casou, ou está morando com a mãe, ou está na hora de parar com os alucinógenos;
2ª: Estender roupa é a dança da chuva mais efetiva que existe;
3ª: Carne descongelada na geladeira ESTRAGA, pelo menos se deixada por 10 dias;
4ª: Ficar pelado em casa é legal, cozinhar assim não;
Obs.: Cozinhar de toalha é um ótimo método para inutilizar a mesma;
5ª: Fazer rodízio de camas é só uma forma de ter duas para arrumar;
6ª: Roupas passadas são coisas extremamente dispensáveis;
7ª: Despertadores sabem ser malignos.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Cafajeste (por Chico Sá)

Enquanto as musas não me volta seu terno olhar, brindo-lhes com essa pérola do meu conterrâneo (apesar dele ser do Cariri e eu ser praciano) Xico Sá.



O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.

Ou é um dublê do Peréio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que, no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.

O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de bonitonas e gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E, de repente, descobre que se trata de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.

O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de um personal stylist: falsa malandragem, cafuçu de araque. E sempre com um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, a ciência da pegada está no olho e no drinque caubói, por supuesto.

O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato desfalca o colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga a caminho da roça.


Falso e romântico

O falso cafa é só garganta. Transando ou não, diz que transou, fez e aconteceu, e ainda espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom, necas.

O cafajeste romântico é discreto. Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma bonequinha de luxo. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo... apenas sexo.

O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo - mas que seja, pelo menos, de uma bela cria da nossa costela, claro, no bafo.

No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições - ele se sujava todo chupando manga na infância e hoje sabe, por causa dessa pedagogia, como o sexo oral é uma arte.

O amador é asséptico e limpinho, corre sempre para o chuveiro depois da transa.

O cafa amoroso, amigo, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Bukowsky.

O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores... Ele ainda não sabe que para curar um amor platônico é preciso uma trepada homérica, como diria o poeta Eduardo Kac, gênio de Copacabana, da bioarte e seus arredores.


Modinhas de fêmea

Conselho do P.J.O'Rourke, no livro Etiqueta Moderna - Finas Maneiras para Gente Grossa, tradução do Aran, ed. Conrad:

"Quando você vai ao encontro de um homem, é perfeitamente aceitável que você deixe claro que trabalha mais duro, é mais bem sucedida e ganha muito mais do que ele. Mas você deve levar em consideração que ele precisa manter algum respeito próprio. Devido a isso, não importa o quanto você ganhe, permita que ele pague todas as contas."


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Cidade sem Nome

Ninguém sabe ao certo quem fundou a Cidade sem Nome, muito menos quando. Quantos eram, o que tinham em mente, do que fugiam, o que queriam se muito... Mas isso é irrelevante. O que ninguem duvida mesmo é que ela durará para sempre.
Todos os dias novos habitantes chegam, alguns partem... Mas todos permanecem. Reza a lenda que aqui ninguem nasce mas há dúvidas... porém todos estão envolvidos demais em sombras ou caçando estrelas para se preocuparem com isso. Aqui não existem bairros, regiões ou mesmo guetos e favelas. É uma massa só uniforme em seu isolamento, sozinho em cada cubículo mal iluminado. Só.
A geografia é condizente com esse panorama. A cada beco e ruela se repete o mesmo cenário anterior. Não digo triste ou desolado, apenas árido e impassível. Até para a felicidade, o gozo e análogos. A Cidade sem Nome é cercada por grandes rochedos escarpados, quase intransponíveis de dentro para fora. Não, não é para impedir a emigração dos pobres habitantes dessas paragens, é apenas um lembrete do que os espera lá fora.
O tempo aqui é constante. Chuva sempre, alternado por raros repentes de céu nublado. As únicas cores apreciáveis são o verde escuro e o cinza. O sol a esqueceu e a lua a abandonou. Não há estações do ano. O tempo aqui não é senhor, nem por isso escravo. Ele passa, nós passamos. Ninguém reclama.
Não há governo. Não há auto-gestão. Não há democracia ou ditadura. É simples: ninguém se importa. Economia, política... isso ficou para trás, do lado de fora. Aqui existe apenas o eu.
Não são todos que são agraciados com o direito de se mudar para cá. Tem que merecer. Muitos que chegam, se negam a aceitar a nova morada. Aos poucos vão armando sua mudança e quando mal se percebe já estão instalados; esses são os que não costumam ir embora nunca. Há os que se alojam logo, tomam o seu espaço e em poucos dias já estão escalando os íngremes penhascos em rumo ao que já tinham. Há os que chegam alardeando sandices e bobagens, só para terminarem seus dias em amargurado e constrito silêncio como auto-penitência.
E há os que como eu, apenas acordaram aqui. Não há o que se fazer, quem sabe até caçar um propósito se tal coisa existe. Na dúvida, persisto minha jornada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

E o Tevez ainda disse que "a argentina ia comer o Brasil em campo"...



P.S.: Richarlyson lamentou muito a não-convocação depois da declaração do argentino.

Crise dos 5 posts

Criei isso aqui com a idéia: "olha eu sempre tou com pensamentos bacaninhas que não tenho com quem falar ou onde escrever", quando na verdade deveria ser: "quantos posts eu aguento?". Eu ainda não consegui nem passar de cinco deles e as musas já viraram suas costas pra mim (musa tem costas?)... eu sempre fui afeito a cinema de arte, musicas lepréuticas e outras coisas de pseudo-intelectuais metidos a bestas, e eu pensava que isso tinha me dado bagagem para simplesmente sustentar esse blog com novas safras de bobagens aleatórias.
Porém subestimava o poder dos sais de Ruthenio e dos projetos de Cálculo 2... e agora fico aqui rezando à Nossa Senhora dos Blogueiros sem Criatividade qualquer coisa interessante (ou sendo menos exigente, qualquer coisa!). Isso me levou a questões mais metafísicas como aquelas Para que escrever? Para quem eu escrevo? Para que fazer a mulher engolir nos filmes pornôs? (opa, essa pergunta é de outro cunho). Voltando, ao me perguntar isso concluí que eu escrevo pelo dever cívico de dar o meu quinhão de besteiras para a net... aproveitar para alguma coisa útil a minha banda (quase) larga e até quem sabe me expressar mesmo.
Refleti um pouco mais e conclui: já tem besteira demais na internet, baixar Arquivo X é mais útil, então o negocio é me expressar mesmo. O que me bloqueia as letras é a preguiça e a concorrencia com as bobagens supracitadas da net...
Enfim, quando eu entrar na crise dos dez posts eu volto ao assunto (ou não).



P.S.:Bobagens supracitadas da net = Porntub

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