segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Aos rígidos, os caixões.

Verme imoralista, verme amoralista, verme anarquista, verme niilista, verme Eu. O verme-eu a corroer a sociedade do seu âmago, com a profundidade das palavras simples e a objetividade de quem fala o óbvio. Na minha desmoral invado as entranhas de tudo e de todos. Ou serão apenas minhas? Ou será apenas eu? No anti-gozo de minhas faculdades mentais não consigo chegar a uma conclusão. Muitas digressões no meio do caminho. No meio do caminho rastejo, imoral e amoral como sempre. No caminho dos outros ou em meu caminho? Meio caminho?
O caminho é longo para os que partem. Mas nunca parto. Permaneço na espreita de mais um a cair aqui, a zombar de todos os rijos corpos que desabam enquanto me avaliam e me julgam. Necessitado espero virem correndo em minha direção, tão necessitados como eu, mas sem a paciência necessária. Necessitados todos. Tropeçam um após o outro em seu próprio discurso, irretocáveis até. E sigo rastejando por suas entranhas ante o regozijo geral da nação. Ou apenas meu próprio?
Verme-eu observo. Ascético quase, porém apenas cínico. Impassível entre tantas entranhas alheias e conhecidas. Devoro diligentemente tudo, tomando o cuidado necessário de sempre tudo rejeitar. Assim prossigo. Na terra como o verme, como verme-eu, como eu-verme e como eu. Com a moleza peculiar que só os vermes possuem, e o plus inerente ao Eu. Mole, nunca hirto como os que aqui estão. Onde estão?
Eu ver-me. Não perco cada passo em falso, cada caminhar penoso, cada perna trêmula. Apenas observo cair. E deleito-me. Aceito o anti-gozo, pelo ante gozo. Aproveito-lhe em cada segundo. Acordarei em um ressaca homérica vomitando em flashbacks todos os tensos corpos indigeríveis? Ou apenas não acordarei?
Acordar. Farei-o na terra como o verme e como o eu. Eu ver-me. Não em caixões de madeira cara, ou mesmo de ripas. Tudo me parece acessível, nenhum cetim no mundo é capaz de negar ao verme sua presa, à presa seu verme. Ver-me no escuro. A claridade dentro das entranhas de todos os estranhos que habito me cegam. Realmente cheguei lá? Sinto apenas o sabor da madeira nova e da seda vermelha. Andando em círculos talvez? Parei de sentir o progresso. Ver-me. Verme. Será essa a resposta para tudo?
Não sei aonde cheguei. A cada passo meu corpo lânguido se enrijece e se contrai. Cada vez mais tenso e tenro. Saboreio-o apenas para amargar meu paladar. Ver-me. Irei a algum lugar? Sairei da terra para qual fui feito? Na terra onde sempre fui o eu e o verme. Adentro-a cada vez mais. Abrindo meus olhos e enrijecendo. Reconhecendo cada entranha digerida, enfim digerida. Afundo-me. Meu corpo teso resiste em rastejar mais. Caio na claridade que me ofusca, porém só agora vejo. Estou de volta a superfície entre minhas tão conhecidas entranhas. Duro. Imoral, amoral e paralisado. Aos rígidos, os caixões.

6 comentários:

  1. Quase kafkiano, porém pós-contemporâneo. [hahah]
    Mui bom!

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  2. Mission control to brain police
    Free lucky energy
    Penetration - destroys the body
    Violation - on a cosmic party
    Do you under - stand the problem
    Anti-war - is anti-orgasm
    Smash the moral hypocrisy
    Mission control keep anarchy
    Liberation - not your sex life
    Domination - will you behave
    See how we be - lieve in nothing
    Anti-god - is anti-orgasm

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  3. Será preciso devolver-lhes a rigidez? Há mais opções na superfície, além dos caixões...
    Gostei muito!

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  4. Tenho certeza q vc queria dizer algo..
    E eu como pobre mortal nao entendi...
    Noob...

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