sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

12 linhas (ou Canto para a Modorra)

Das sombras que me perseguem
Às sombras que eu provoco
Vejo tudo escuro e oco
Opaco ao toque e ao sussuro
Nas sombras em que me esmurro
Sinto a brisa dos vencidos
Até os versos não lidos
Trazem a dor de seu refrão
Sinto o mundo pela mão
Do poeta mal-amado
O sofrimento azeitado
Pela dor no coração

Trago os olhos ofuscados
Trago a lua e trago o eu
Não sei quem foi que venceu
A lida do cantador
Eu troco tudo que for
Por um dia de princesa
Para me afogar na fineza,
e me transformar em meretriz
Não sei porque que eu quis
Essa vida devagar
Eu só quero poder gritar:
"De tudo vi, de tudo fiz."

De cada gemido ouvido
Quero ser o capataz
Me perder em sempre mais
E clamar por lucidez
Ganhar desfaçatez
Me punir pelo temor
Me agarrar ao fervor
De cada gole do vinho
Seguir a vida de mansinho
Rindo da sobriedade
Rezando para a verdade
Se perder em seu caminho

Não me venham com um lastro
Com carinho ou com afeto
O meu desejo e objeto
Não se encontra em cada flor
Quero tudo de uma só cor
Expandindo o movimento
Para nunca achar alento
Na riqueza ou na miséria
Bruxuleando em cada artéria
Cantando ritos ateus:
"Me leve a vida, meu Deus,
Mas não me leve a pilhéria."

2 comentários:

  1. impossível nao ver a influencia do cordel na sua poesia, e que boa influencia que só veio a incrementar a sua grande facilidade de impor ritmo e raciocínio no texto. gosto de quando leio um texto e tenho a sensação de estar escutando-o, acho q esse é o texto bom, o que encena sozinho e conta a sua história, tem vida de verdade que pula do papel, salta das linhas.

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