sexta-feira, 14 de maio de 2010

Anos 10: Diário de Bordo

        Acordo em uma gélida manhã (não tão manhã assim) ensolarada de fim de maio. Ligo a TV, droga é domingo. Vejo um imbecilizante futebol, seguido de imbecilizantes programas de auditório, todos lotados por imbecis. Todos tentam vender o que se pode chamar de felicidade. Não creio que seja pra mim, sorte a minha. Desisto logo e ponho o tênis de jogging (wtf?!) que comprei pela internet. Lembro-me dela, e desisto de minha quase quebra de sedentarismo. Lixo vendido como notícia, entre anúncios absurdos e "enlarge your penis". 
       Num arroubo de reação corro ao shopping para tentar aplacar esse sentimento indesejado que me aflige sempre. Perdido entre futilidades e levianos seres, visito uma livraria apenas para confirmar as minhas suspeitas: mais esterco, só que dessa vez encadernado. Talvez se Deus (aquele de todos nós) castigasse menos Nardoni`s e mais Stephanie Meyers´s o mundo seria um local mais habitável. E ao pseudo-escritor que ousou escrever a biografia não-autorizada de um ator com menos de 25 anos e nada memorável na carreira, saiba que há mais círculos no inferno do que Dante descreveu.
       Corro ao parque para ver patos politicamente corretos dividirem o lago com cisnes e outras aves inomináveis. Todos ao redor se abraçam e se saúdam em uma dança hipocritamente ensaiada a cada capítulo da novela das oito. Não consigo suportar o asco, ligo o rádio e fecho os olhos, apenas para maior padecer. Me recuso a explanar melhor o assunto, por demais traumático. 
     Só me resta retornar ao cotidiano que aos poucos tenta arrancar meu âmago, pedaço a pedaço. Como um Prometeu pós-moderno, regenero a cada fechar de olhos ou suspiro condescendente pelo que me cerca. Não, não é arrogância ou desprezo... Apenas estou acorrentado a uma época que nunca me pertenceu, em uma terra de outros. Errados eles, ou eu? Não importa, apenas fecho os olhos e suspiro mais uma vez.


4 comentários:

  1. Amo Paulo Coelho e lixos afins...
    ahuhauhauhauhauhauhau.. BAZINGA..
    Deus (aquele de todos nós) me livre!!
    Muito bom o texto..

    Mas qual o Laplaciano de raiz de t?

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  2. Parei no penúltimo parágrafo: imaginando alguns patos politicamente incorretos.

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  3. texto muito interessante, como sempre a gestão vocabular é um forte da sua escrita.

    Vítor Domício

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